Sistema bancário aberto deve reduzir custo do crédito

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A partir desta sexta-feira (13), a relação dos brasileiros com os bancos vai começar a mudar, com a entrada em vigor do Open Banking.

A partir desta sexta-feira (13), a relação dos brasileiros com os bancos vai começar a mudar, com a entrada em vigor do sistema bancário aberto. Um dos efeitos práticos deve ser o custo do crédito.

O sonho do professor Flávio Apolônio e da família está sendo construído. Por enquanto, ele só vê de fora. Mas, nas próximas semanas, vai estar com a chave na mão.

“Uma conquista que nós estávamos já planejando há algum tempo e pesquisando muitos lugares até o dia que nós vimos esse empreendimento e falamos: ‘ó, vai ser agora.’ A expectativa está enorme porque dá uma vontade imensa de mudar logo”, conta Flávio.

O apartamento foi financiado, mas o banco onde Flávio tem conta quis cobrar juros muito altos. Aí, ele correu atrás de outros bancos.

Flávio: Tal dia, tal hora, eu tenho que estar no banco para conversar com o gerente. Ligava, falava: ‘Posso ir aí tal hora, tudo mais. Porque eu preciso falar com você em determinado horário’.

Repórter: Você teve que bater perna, então?

Flávio: Sim, tive que andar um pouco.

Quem pesquisa preço costuma pagar menos. Mas o preço do dinheiro - os juros - não é como o de uma roupa, um brinquedo, uma geladeira. Um banco decide se empresta e quanto cobra conforme o cliente. Depende, por exemplo, de quanto a pessoa ganha, se ela está com o nome limpo.

Os bancos precisam de informações para decidir. Pois agora, eles poderão ter essas informações com um toque nosso na tela. E a gente vai poder pesquisar o preço do dinheiro sem bater perna.

Começa a funcionar, aos poucos, no Brasil o chamado Open Banking, que pode ser traduzido como sistema bancário aberto. Os bancos estarão conectados e poderão oferecer produtos financeiros a clientes da concorrência.

Saiba o que pode acontecer com alguém como o Flávio, que procura um financiamento e já tem conta no banco A. No novo sistema, essa pessoa poderia entrar no site ou aplicativo de outros bancos, onde ela não tem conta. Escolher participar do Open Banking e digitar ali suas informações, incluindo os dados da conta no banco A.

Ao fazer isso, a pessoa autoriza esses bancos a ter acesso à situação financeira dela: quanto dinheiro tem na conta, quanto entra de salário, as prestações que paga.

Com essas informações, os bancos concorrentes poderão calcular e oferecer outras taxas para o financiamento que a pessoa procura.

“Você vai ter a possibilidade de acessar um conjunto muito maior de produtos e serviços financeiros que são oferecidos por outras instituições financeiras”, explica o diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Ribeiro Damaso.

Para conseguir crédito em outro banco, dependendo do caso, nem será preciso transferir a conta.

“Hoje, o limite do cheque especial é um produto muito associado a conta corrente. Você vai poder pegar cheque especial num outro banco que vai oferecer condições melhores. Como isso vai ocorrer? Você vai dar permissão para esse outro banco acessar diariamente a tua conta corrente e verificar se tua conta corrente está positiva ou negativa; se ela está negativa, automaticamente ele vai te conceder o crédito e cobrir aquele saldo negativo que você tem. Então isso vai permitir obter uma operação de crédito num outro banco de uma forma fácil e automática utilizando a ferramenta do Open Banking”, diz Otávio Damaso.

O cliente pode compartilhar apenas parte das informações bancárias. Por exemplo: permitir que outros bancos vejam as movimentações da conta corrente, mas não as da poupança e dos investimentos. Ele também pode encerrar esse compartilhamento de informações a qualquer hora.

Nesta sexta, quando o Open Banking começar a funcionar, o sistema vai aceitar, no máximo, 0,1% dos clientes de cada banco. Esse limite vai aumentando em etapas. Até outubro, o teto vai subir para 10%.

Um sistema assim já é usado no Reino Unido. Eliezer mora lá, participa do Open Banking há três anos e pegou cartões de crédito de bancos diferentes.

“O ponto positivo é que você acaba criando um crédito melhor no teu nome, então você acaba tendo mais benefícios e propostas de créditos bancários ou financiamentos que você possa precisar”, diz o pastor Eliezer Mangrich Amancio.

Economistas acreditam que o Open Banking vai deixar produtos financeiros mais baratos. Não só financiamentos, mas, também, seguros e planos de previdência, por exemplo.

“Agora não é só a minha instituição que me conhece do ponto de vista financeiro. Qualquer outra instituição financeira vai poder competir com ofertas de crédito que possam eventualmente ser mais baratas, mais inovadoras e isso traz competição para o mercado. Traz inovação para o mercado, traz mais volume de crédito, crédito mais barato e mais pessoas acessando o mercado financeiro”, explica a economista Ana Carla Abrão.

O Banco Central, as instituições financeiras e as empresas de tecnologia envolvidas no sistema afirmam que as informações financeiras das pessoas estarão protegidas contra vazamentos.

Uma plataforma que não seja parte do Open Banking, não seja uma instituição regulada, ela não vai conseguir por trás dessa infraestrutura conectar com o seu banco, para pedir compartilhamento dessas transações”, afirma Tiago Aguiar, líder de Open Banking da Tecban.


Fonte: G1