Desembolsos do BNDES às pequenas tiveram retração de 13% até março

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O segmento está sentindo mais a diminuição da oferta de crédito público do que as grandes companhias, onde a queda nas liberações foi de 7%; infraestrutura continua sendo prioridade

As micro e pequenas empresas (MPEs) estão sentindo mais que as grandes companhias a retração da oferta de crédito público, conforme mostram dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

No acumulado de 12 meses até março deste ano, houve queda de 13% nas liberações dos recursos do banco de fomento, tanto para as micro como para as pequenas empresas, em relação aos 12 meses imediatamente anteriores.

Nas grandes, a retração no financiamento foi de 7% e, nas médias, de 19%. Somando os desembolsos aos micro, pequenos e médios negócios a queda chega a 14%.

O professor de economia das Faculdades Integradas Rio Branco, Rogério Buccelli, diz que esses números, no geral, refletem tanto o baixo nível de consumo do País, como a retração no crédito disponível. "É uma queda que está relacionada à diminuição tanto da demanda, como da oferta", diz o especialista.

A professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-Rio), Virene Matesco, lembra que, em um cenário como esse, as empresas de pequeno porte são as primeiras "a sentirem os efeitos da crise". Assim como as demais companhias, essas estão reduzindo investimentos e, portanto, demandando menos crédito.

"Além disso, o BNDES, historicamente, sempre se voltou mais às grandes empresas", afirma a professora da FGV.

O BNDES, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que a queda nas liberações é resultado da mudança em sua política operacional, que reduziu o nível máximo de participação da instituição e aumentou Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para financiamentos. Atualmente, a TJLP está em 6%. "Com isso, a pequena perde uma grande fonte de crédito", afirma Buccelli.

De acordo com declaração feita ontem pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, o governo planeja mais uma elevação da TJLP. A decisão sobre a taxa é tomada a cada três meses pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) - a próxima reunião deve ocorrer em junho. Barbosa acrescentou que o governo precisa criar condição para reduzir inflação.

INFRAESTRUTURA 

Os dados por setor também mostram queda nos desembolsos no BNDES. A menor retração foi em infraestrutura, de 5% nos doze meses encerrados em março de 2015, em relação aos doze meses imediatamente anteriores. Na agropecuária e no comércio, os recursos liberados pela instituição tiveram retração de 10%. Já o setor industrial registrou a maior queda, de 16%, na mesma base de comparação. Os especialistas entrevistados lembram que a infraestrutura sempre foi um segmento de maior de investimento do BNDES.

"Infraestrutura sempre foi uma prioridade para o BNDES. O que pode explicar também a queda menor dos desembolsos ao setor em relação aos outros segmentos é que, quando se trata de grandes obras, sai mais barato dar andamento aos projetos do que interromper. [...] A construção de uma usina hidrelétrica, por exemplo, dará menos prejuízo se continuar sendo impulsionada", afirma Buccelli .

Para Virene Matesco, o corte feito pelo governo nos gastos com investimentos, associado aos escândalos de corrupção envolvendo construtoras, não devem interromper as obras de infraestrutura em andamento. "No entanto, a execução dos projetos podem sofrer atrasos", diz ela.

Transparência

A professora da FGV considera positiva a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de obrigar o BNDES a informar dados completos sobre as operações de crédito feitas ao grupo JBS-Friboi, para o Tribunal de Contas da União (TCU). "A transparência é fundamental em uma democracia", diz ela.

Para Virene Matesco, é preciso criar um sistema mais transparente nas condições de concessões de crédito que, ao mesmo tempo, preserve os detalhamentos dos projetos das companhias.

 

 

 

FONTE: FENACON