Como o Estado de Goiás pode ser impactado pela vitória de Biden nos EUA

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Democrata Joe Biden venceu a eleição presidencial após quase quatro dias de apuração nos Estados Unidos. Agora, o mundo está atento para o que vem a seguir

O mundo parou na última semana na espera para descobrir quem seria o próximo nome a assumir um dos cargos mais importantes do mundo, a presidência dos Estados Unidos da América. A votação, cuja apuração começou no dia 3 de novembro, terça-feira, foi considerada uma das mais acirradas e emocionantes da história americana. A definição da vitória numérica do democrata Joe Biden sobre o adversário, o atual presidente Donald Trump, do Partido Republican, veio somente no último sábado, 7, com a conclusão da contagem de votos no Estado do Arizona, um cobiçado colégio eleitoral de 20 votos.

Biden, que foi declarado o 46º presidente dos EUA ao bater a marca de 290 delegados eleitorais (eram necessários 270 para ser eleito), dá fim a uma tradição de 27 anos de presidentes reeleitos. A última vez que um presidente não chegou a um segundo mandato foi em 1993, quando o republicano George H. W. Bush perdeu para o democrata Bill Clinton.

De acordo com a mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Danielly Wood, que tem tripla nacionalidade (brasileira, estadunidense e australiana), Biden é um ‘animal político’, conhecido por ser um democrata que consegue “trabalhar de forma bipartidária dentro dos Estados Unidos.

“Biden é centro, é moderado. Vai ser uma pessoa extremamente pragmática, tendo a capacidade de unir. Biden tem uma possibilidade de ser um presidente de ser lembrado por muito tempo por essa capacidade de unir os Estados Unidos”, avalia a especialista.

Para Danielly, que também é professora do high school (ensino médio) nos Estados Unidos, o novo presidente dos EUA, que ainda será empossado, é um defensor do multilateralismo, o que pode fazer com que os EUA voltem às organizações internacionais até então desprezadas por Trump, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Acordo de Paris.

“Isso já mostra um perfil bem diferente. Ele tem uma postura dentro da ordem internacional, atuando como líder dessa ordem, não se isolando dela”, explica Danielly.

Impactos no Brasil e em Goiás
A partir de janeiro, quando Biden assumirá a presidência, muita coisa deve mudar, inclusive no que tange às relações diplomáticas e comerciais dos EUA com o Brasil, uma vez que a “Terra do Tio Sam” é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com 12,3% do total dos negócios, ficando atrás apenas da China, que corresponde a 28,8% das relações comerciais.

E nesse bolo comercial, está o Estado de Goiás, como um dos grandes exportadores de açúcar, carne e leite para os EUA. Para se ter uma ideia da proporção comercial entre ianques e goianos, no 1º semestre de 2020, Goiás destinou 39,9% de duas exportações de lácteos para os Estados Unidos, segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

No entanto, se existe algum temor de que o novo presidente norte-americano possa impor reviravoltas comerciais que prejudiquem o Brasil e, consequentemente, o Estado de Goiás, o medo pode ser infundado. De acordo com a mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Danielly Wood, a eleição de Biden deve trazer pragmatismo para as relações comerciais entre o Brasil e EUA.

Danielly Wood é mestre em Relações Internacionais pela PUC Goiás | Foto: Arquivo pessoal


Danielly Wood diz que, com Biden, a postura do governo norte-americano será “bem mais política, mais correta”. “Não vai levar a grandes mudanças no sentido que vamos perder muito. Na verdade, pode ser que a gente tenha mais estabilidade com o Biden”, diz.

Para a professora, indiretamente a vitória de Biden também é boa para o Brasil e para Goiás. Sem Trump, conforme ela, o discurso anti-China, que encontra forte eco no governo Bolsonaro, deve perder força, o que é algo positivo para Goiás uma vez que o país oriental é um grande parceiro comercial dos goianos.

Segundo a Seapa, a China foi responsável por 66,9% das exportações do agro goiano no mês de junho deste ano. No caso da carne bovina, foram mais de US$ 109,758 milhões, com 16,92% das exportações goianas do agronegócio. Os principais países foram China, Hong Kong e Egito.

Em nota divulgada no sábado, o governador Ronaldo Caiado parabenizou Biden pela vitória nos Estados Unidos e ofereceu seus votos de sucesso ao democrata e sua vice, Kamala Harris. Veja abaixo:

“Parabenizo Joe Biden, eleito democraticamente novo presidente dos Estados Unidos. Desejo uma administração pautada pelo diálogo e, respeitada a autonomia do Brasil, ações que fortaleçam os laços entre nossos países, com relações comerciais saudáveis e sem quebra de continuidade naquilo que já foi construído.

Deixo aqui meus votos de sucesso a Biden e Kamala Harris, primeira mulher eleita vice-presidente dos EUA, um marco na história da democracia daquela nação.”

Descontinuidade comercial
Assim como Danielly Wood, o professor do curso de relações Internacionais da PUC Goiás e doutorando na área pela Universidade de Brasília (UnB), Giovanni Okado, diz acreditar que Goiás não sofrerá nenhuma alteração ou efeito direto da vitória de Biden nos Estados Unidos. No entanto, o professor explica que, com a mudança de gestão estadunidense, pode haver um processo de “descontinuidade” das relações comerciais entre Brasil e EUA.

Para o professor, a pauta comercial entre os dois países pode ser, a princípio, “colocada de lado”, o que pode afetar o Estado de Goiás. “Não vejo que seria, de repente, algo direto, uma preferência do governo norte-americano direcionada contra o Estado de Goiás ou contra um setor específico, mas mais como uma consequência do esfriamento e até estranhamento inicial que pode haver”, expõe.

Giovanni Okado, professor do curso de Relações Internacionais | Foto: Arquivo pessoal

Ainda segundo Okado, a mudança no governo estadunidense deve fazer, inclusive, com que o governo brasileiro repense não apenas suas ações com os Estados Unidos, mas com outros países do mundo. “O Brasil terá que pensar mais pragmaticamente a política externa”, avalia.

“Com o Biden, há uma retomada do pragmatismo. Mas provavelmente haverá um estranhamento inicial entre os dois [Brasil e EUA], até porque o Biden já assumiu uma postura criticando a diplomacia brasileira”, conclui.

Fonte: Jornal Opção