Congresso fala em ‘cansaço’ de Guedes e elogia decisão

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Parlamentares demonstram incômodo com insistência da equipe do ministro com medidas de restrição de gasto que tenham as classes mais baixas como alvo

As críticas do presidente Jair Bolsonaro à sua própria equipe econômica ecoaram positivamente no Congresso Nacional.

Para além de uma mostra de apoio ao presidente, a reação do Parlamento deixou claro o incômodo dos parlamentares com a insistência do grupo comandado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em medidas de restrição de gasto que tenham as classes mais baixas como alvo.

Parlamentares rechaçaram qualquer possibilidade de o Congresso referendar um congelamento nas aposentadorias como forma de custear o Renda Brasil. Mais do que isso, acusam Guedes de tentar vencer a discussão pelo cansaço.

A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), apontou que a equipe econômica insiste em retirar benefícios dos mais pobres para não ter que mexer com os mais ricos, quando se trata de encontrar espaço fiscal no Orçamento. Segundo ela, os congressistas estão ficando “cansados” dessa estratégia.

“Há uma grande diferença entre a teoria da equipe econômica e a realidade. Não tem lógica a equipe econômica imaginar que, num país com tanta desigualdade, tanta miséria, tantos super-ricos, você precisa melhorar as condições dos miseráveis mexendo na classe D ou na classe média, quando você tem alternativas de mexer com a classe A e B”, disse. disse. “Isso é não conhecer a realidade. O presidente [Bolsonaro] está coberto de razão. A equipe econômica está querendo nos vencer pelo cansaço e quem está ficando cansado somos nós.”

Parte dos parlamentares já havia saído em defesa de Bolsonaro quando ele foi a público para dizer que o governo não iria acabar com o abono salarial porque isso significaria retirar dos “pobres” para dar aos “paupérrimos”.

O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), apontou que “os dias de Guedes estão contados” no governo. Para ele, Bolsonaro está “satanizando” o chefe da equipe econômica, assim como teria feito com outros ministros, antes de demiti-los. “Bolsonaro demonstrou mais uma vez que está defenestrando seu ‘posto Ipiranga’. Fica claro o mesmo roteiro de satanização dos seus aliados. Bolsonaro quer medidas políticas e o Guedes está tentando dizer que o caminho não é por aí. Os dias do Guedes estão contados mesmo”, disse. “Ele [Bolsonaro] está imitando o capitão Nascimento do [filme] ‘Tropa de Elite’: ‘pede para sair [Paulo Guedes]’. E o Guedes só pensando: ‘Você é moleque’.”.

Líder do MDB, o senador Eduardo Braga (AM) pediu que Bolsonaro “não jogue a toalha” em relação ao Renda Brasil e recomendou a tributação de lucros e dividendos e a elevação da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) como forma de custear o programa.

“Tirar dinheiro de idosos e deficientes para bancar renda básica é um contrassenso. Mas não dá para jogar a toalha e deixar desassistidos milhões de excluídos no país. Dá muito bem para bancar uma renda básica permanente tributando lucros e dividendos e elevando a CSLL dos bancos, entre outras alterações na legislação tributária.” Braga apresentou um projeto que institui uma renda básica de até R$ 600 por família, a depender do número de dependentes.

Deputados governistas e de centro, que costumam apoiar a agenda econômica do governo, minimizaram a decisão de Bolsonaro de enterrar as discussões sobre o Renda Brasil e manter o Bolsa Família - ainda não está claro se ampliado ou se no atual modelo. Nos bastidores, esses parlamentares afirmaram que o modelo causaria desgaste, por cortar benefícios para outras camadas de baixa renda, e jamais chegaria nem próximo do alcance do auxílio emergencial, não fazendo portanto qualquer sentido a substituição.

O líder de um partido de centro-direita diz que a oposição fará disso um cavalo de guerra para tentar desgastar Bolsonaro, mas o resto da Câmara deve se conformar porque sabe do cenário de restrição fiscal. Um parlamentar governista diz que Bolsonaro ainda pode recuar e ampliar o valor das verbas para o Bolsa Família e mudar algumas regras, para reforçar a disputa sobre o legado petista. Uma eventual perda da popularidade do presidente é esperada, mas isso já seria natural porque o alcance do novo programa seria bem mais limitado que o auxílio emergencial.

Fonte: Valor Econômico