Redução de custos e despesas será meta de pequenas em 2016

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Saída projetada pelas empresas de menor porte é trabalhar com os gastos

  

Dificuldades na receita. Com incertezas em relação à demanda dos consumidores e o cenário de escassez de crédito, saída projetada pelas empresas de menor porte é trabalhar com os gastos

 

São Paulo - Com condições menos favoráveis de crédito e incertezas em relação à demanda dos consumidores, as pequenas e médias empresas brasileiras consideram a redução de custos e despesas como a melhor oportunidade para seus negócios no início de 2016.

 

A informação é de uma pesquisa da Zurich, feita com 200 companhias de menor porte do País, que aponta que 46% dessas firmas projetam cortar gastos nos próximos meses - no ano passado, o mesmo levantamento mostrou que 29% miravam os custos e as despesas.

 

Sem uma perspectiva concreta sobre as receitas, por conta da turbulência econômica vivida pelo Brasil, as empresas estão buscando reestruturações internas, olhando para o outro lado do orçamento, explicaram executivos e consultores ouvidos pelo DCI.

 

"Quando o comportamento do mercado muda e a competitividade fica maior, os empresários percebem que as margens vão diminuir. Sem receita, é preciso trabalhar os custos", avaliou Walter Pereira, diretor de Linhas Pessoais da Zurich Brasil.

 

Uma pesquisa do Sebrae, divulgada ontem, mostra que o faturamento mensal médio das micro e pequenas empresas em outubro foi 17% menor que no mesmo período de 2014.

 

Outra opção de administração do fluxo de caixa, que no ano passado era considerada uma boa oportunidade por 24% dos empresários - e em 2013, por 30,8% dos entrevistados -, o crédito com condições atrativas, também não aparece mais como uma alternativa. Neste ano, diante do avanço dos juros e a maior seletividade do mercado financeiro, a ferramenta foi considerada uma oportunidade apenas por 13% do empresariado ouvido na pesquisa.

 

"A única coisa que o empresário controla são os gastos. Ele não consegue controlar quando e quanto os clientes vão consumir", afirmou Gilberto Miyamoto, consultor financeiro e diretor executivo da consultoria Miyamoto e Cia. "Também não tem poder sobre os juros e o câmbio - só o aluguel, a água, e folha de pagamento", concluiu.

 

Realizada em âmbito global, a pesquisa da Zurich mostra que, nos 15 países consultados, 30,6% das empresas olham a redução de custos e despesas como oportunidade para 2016. Na contramão do Brasil, no entanto, a segunda oportunidade mais indicada foi o crédito.

 

De acordo com o advogado e gestor de crises Artur Lopes, a diferença está na economia, que nos outros países está estabilizada ou em expansão, e no emaranhado regulatório. "Com o mercado estabilizado e o horizonte econômico claro, fica mais fácil tomar crédito. Além disso, diferentemente do Brasil, os empresários sabem quais são as regras do jogo", ponderou.

 

Estratégia

 

Miyamoto apontou, contudo, o corte de custos e despesas precisa ser inteligente e bem estruturado, além de proporcional à perda de margem, para trazer resultados. "É preciso diagnosticar os ativos e operações que estão trazendo boa rentabilidade e aqueles que estão gerando prejuízo", disse.

 

Um exemplo usado pelo executivo para ilustrar o ponto foi o caso de um cliente seu, que possuía dois negócios: um restaurante e uma empresa de entrega de marmitas para construtoras. As operações compartilhavam a mesma cozinha, em um local alugado em um ponto caro da cidade. Ao contrário do que o proprietário pensava, o restaurante estava gerando prejuízo e o negócio de marmitas, lucro.

 

"O negócio de marmitex era mais simples, sem o glamour e a sofisticação do restaurante. E era um negócio que gerava ganhos no volume, com margens pequenas", contou. "O restaurante tinha margens maiores, mas a conta de energia elétrica era muito cara, por causa do ar-condicionado, e o aluguel também, devido ao ponto. Estava gerando prejuízo mensal. No final, o que fizemos foi fechar o restaurante e alugar um local mais barato para manter a cozinha do negócio de marmitas, que dava retorno", concluiu.

 

Outras saídas apontadas por Miyamoto para corte de gastos foram a venda de ativos e a redução de estoques.

 

Segundo Pereira, da Zurich, existe um despreparo do empresariado brasileiro em relação aos riscos do negócio.

 

"Muitos empresários acham que não correm perigo, mas quando fazemos um gerenciamento de riscos e colocamos os resultados no relatório, a percepção muda", analisou. "Para ter resultados, a empresa precisa conhecer o mercado em que atua, quem são os fornecedores, os compradores, se o consumidor está perdendo poder de compra", completou.

 

Maiores riscos

 

De acordo com a pesquisa, os maiores riscos observados pelas PMEs brasileiras para os próximos meses são a alta competitividade causando impacto nas margens das vendas (31,5%), e a falta de demanda do consumidor e excesso de estoque (28%).

 

Outra preocupação que apareceu com relevância, apresentando crescimento expressivo em relação a 2014, foi a corrupção - 13,5% das empresas apontaram como um dos principais riscos, em um questionário em que podiam ser escolhidas até três respostas.

 

Lopes afirmou que a competitividade é acirrada, principalmente, pelo aumento dos custos das empresas, o que demanda mais planejamento para sobrevivência em um mercado com mais concorrência.

 

Segundo Pereira, diante da desaceleração econômica e o aumento dos riscos, as empresas também têm que estar mais atentas para os seguros e, principalmente, as coberturas contratadas. "Hoje, uma apólice para interrupção de negócio é tão importante quanto a cobertura principal, do patrimônio da companhia", explicou.

 

O seguro é usado para a empresa manter a operação quando vítima de uma incidente, como incêndio. A seguradora cobre gastos como folha de pagamentos, custos fixos e fornecedores, entre outros, conforme a necessidade da companhia. "Até que negócio retorne à ativa, a empresa perde receita e, talvez, até fatia de mercado. Hoje, com a crise, quando se perde participação é mais difícil recuperar", observou.

 

Fonte: Fenacon