Empreendedores por necessidade

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Quatro em cada dez brasileiros já estão envolvidos em abertura de empresas

 

Pesquisa de 2015 mostra que quatro em cada dez brasileiros já estão envolvidos em abertura de empresas, mas com salto na participação dos que precisam complementar a renda.

 

O número de brasileiros em idade economicamente ativa que são empreendedores aumentou de 34,4% em 2014 para 39,3% no ano passado, quando chegou a 52 milhões de pessoas. Entretanto, pela primeira vez desde 2009, houve aumento na participação de pessoas que abriram um negócio próprio por necessidade, que foi de 29% para 43,5% nos últimos dois anos, com redução dos que viram uma oportunidade no mercado, de 71% para 56,5%. Os números são do Monitor de Empreendedorismo Global 2015 (GEM, na sigla em inglês), pesquisa patrocinada pelo Sebrae no Brasil.

 

É a recessão econômica pela qual o País passa que explica o fato de quatro em cada dez brasileiros estarem ligados à criação de uma empresa, pelo próprio histórico do levantamento. A participação de novos empreendimentos motivados por oportunidades tem aumentado quase que ininterruptamente desde 2002, quando era de 42% do total. De 2005 para 2006, houve quase estabilidade, de 52% para 51%, mas foi quando estourou a crise econômica mundial, entre 2008 e 2009, que ocorreu a outra variação drástica da série. Na ocasião, o índice caiu de 67% para 60%, conforme a GEM.

 

Boa parte dos empreendimentos iniciais são tocados por jovens de 18 a 35 anos (52%), com escolaridade abaixo do segundo grau (44%) ou com o segundo grau completo (49%) e renda de até três salários mínimos (61%). Quesitos que tiveram variação pequena em relação ao ano anterior, mas que mostram o perfil de trabalhadores com mais dificuldade de conquistar espaço no mercado.

 

A diferença principal do ano passado em relação à série analisada na GEM, e que deve permear as iniciativas de abertura de empresas também em 2016, é mesmo a necessidade de se sustentar diante do aumento do desemprego, diz o consultor do Sebrae em Londrina, Rubens Negrão. "Até 2012, principalmente, o crescimento da classe C, o ganho de poder aquisitivo da população, o maior gasto em educação e o maior acesso à internet fizeram com que o brasileiro buscasse oportunidades de mercado", conta.

 

A perspectiva da realização de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada no País também motivou os empreendedores, mas a crise tratou de enfraquecer o ímpeto ainda antes dos Jogos do Rio, neste ano. "O desemprego e a inflação aumentaram, o que tira o poder de compra da população e cria um clima negativo, que é o principal responsável pelas pessoas gastarem menos e investirem menos", diz Negrão.

 

O consultor lembra ainda da alta de juros, que costuma fazer com que o rendimento em fundos de renda fixa seja maior do que o retorno em produção, o que atrasa a abertura de empresas por oportunidade. Outro motivo para a disparada do nascimento de empreendimentos por necessidade. "Quando fica desempregada, a pessoa tem de continuar a colocar o leite dentro de casa e então busca uma porta de entrada para o mercado empreendedor, que é principalmente o MEI", explica, sobre o Microempreendedor Individual.

 

O programa nacional permite que qualquer autônomo com faturamento de até R$ 60 mil ao ano possa se formalizar, mesmo que tenha até um funcionário. Negrão lembra que quem estava informal teve tempo para se adequar até então. "Quem virou MEI agora é porque são novos empreendedores."

 

GARANTIA DE RENDA

 

O técnico em eletrotécnica Cláudio da Silva Leite, de 37 anos, prepara-se desde o ano passado para abrir a própria empresa, a CSL Instalação e Manutenção Elétrica. Depois de 16 anos trabalhando no setor em uma indústria de Londrina, ele foi demitido em novembro de 2015. "Chegou a crise e estamos passando por um momento difícil, mas, em Londrina, teria dificuldade de conseguir um emprego com salário que se equipare ao meu antigo, então fiz a opção de virar um MEI", conta.

 

Ainda na fase de montagem do plano de negócios, ele não decidiu se atenderá apenas residências e pequenos comércios, ou chegará até indústrias. Apesar de dizer que pode tocar a empresa em paralelo a um novo emprego, ele cita que também pode optar por trabalhar apenas como autônomo, caso identifique a oportunidade. "Tenho um filho e minha mulher está grávida de outro, então estou aberto a todas as oportunidades. Tudo vai depender da minha renda", diz Leite.

 

Setor precisa de condições mais favoráveis

 

O presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, considera o empreendedorismo como alternativa para contornar dificuldades da economia e, por isso, diz que é preciso promover ações que reduzam a burocracia, simplifiquem a legislação, facilitem o crédito e incentivem a educação empreendedora. "Quanto mais crédito e menos tempo o empresário perde com entraves burocráticos, mais ele pode se dedicar ao seu negócio, o que gera mais emprego e renda para os brasileiros", diz Afif.

 

Ele cita que a redução da participação de empreendedores por oportunidade pede nova política para o setor, já que os 56,5% de 2015 representam o mesmo índice de 2007, quando a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa entrou em vigor. "Com a melhoria do ambiente legal no Brasil, presenciamos um boom no empreendedorismo. O aumento de incentivos influenciou o forte crescimento do empreendedorismo por oportunidade, que pode ter voltado a um patamar mais equilibrado quando comparado com o empreendedorismo por necessidade", afirma.

 

Especialistas ouvidos pela GEM apontam ainda para a necessidade de incentivos à educação e capacitação (48,6%), políticas governamentais (40,5%), apoio financeiro (24,3%), pesquisa e desenvolvimento (23,0%), custo do trabalho, acesso e regulamentação (20,3%) e programas governamentais (16,2%).

 

 

APOIO TÉCNICO

 

Consultor do Sebrae em Londrina, Rubens Negrão lembra que é importante que os empreendedores busquem apoio de entidades para a formatação do negócio em qualquer situação, mas, principalmente, em caso de necessidade. "É preciso conhecer o mercado, os custos, a concorrência e aprender a se diferenciar", cita.

 

Negrão lembra que é comum a pessoa não ter visão sistêmica da empresa onde trabalhou, mas apenas da função que exerceu. "O papel das instituições é emprestar esse conhecimento a esse público, para que tenham a condição mínima de administrar o negócio. E não se trata apenas do Sebrae, mas de associações comerciais, sindicatos e outras", sugere. (F.G.)

 

Fonte: Fenacon